Minas Gerais, o maior produtor de café do Brasil, tem se destacado não apenas pela sua imensa produção, mas também pelo uso crescente de ciência e tecnologia no cultivo do grão. O estado responde por cerca de 50% da área cafeeira e 40% da produção nacional, sendo uma verdadeira referência no setor. A constante evolução das práticas cafeeiras em Minas Gerais tem sido impulsionada por pesquisas inovadoras que buscam garantir maior produtividade, qualidade e sustentabilidade para os produtores locais. O café de Minas Gerais, assim, se torna um exemplo de como a modernização da agricultura pode beneficiar tanto o produtor quanto o consumidor, por meio de grãos mais resistentes e saborosos.
Pesquisas científicas, conduzidas por instituições como a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e a Embrapa, têm sido fundamentais para o desenvolvimento do café no estado. A parceria entre essas entidades tem possibilitado a criação de cultivares adaptadas às diversas condições climáticas e de solo de Minas Gerais. O foco não está apenas no aumento da produtividade, mas também na diversificação de sabores e no aprimoramento da qualidade do café, atendendo a uma demanda crescente por grãos diferenciados e de alto padrão. Essas inovações são essenciais para fortalecer a cafeicultura e tornar a produção mais rentável e sustentável a longo prazo.
O trabalho de melhoramento genético é outro fator crucial no avanço do café de Minas Gerais. O pesquisador da Epamig, Gladyston Carvalho, destaca que, além de aumentar a produtividade, essas inovações tornam a produção mais resistente às intempéries e a pragas. No passado, a média de produtividade no estado era de sete sacas por hectare, mas com as melhorias genéticas, esse número subiu para entre 25 e 30 sacas por hectare, conforme revela o pesquisador Vinícius Andrade. Esse salto significativo na produtividade não só melhora a rentabilidade dos cafeicultores, como também garante que a atividade se mantenha viável para as gerações futuras, permitindo a sucessão familiar nas propriedades rurais.
O desenvolvimento de novas cultivares é um processo complexo e demorado, mas extremamente necessário para o sucesso da cafeicultura mineira. A técnica de hibridação é utilizada para cruzar plantas com características desejáveis, buscando uma combinação que aumente o vigor e a resistência das plantas, além de melhorar a qualidade do grão. O processo de desenvolvimento pode levar de 20 a 30 anos para ser concluído, mas os resultados valem o investimento de tempo. A Epamig, por exemplo, já registrou mais de 20 cultivares que são reconhecidas e utilizadas comercialmente, como o Topázio MG1190 e o MGS Paraíso 2, que se destacam pela sua produtividade e sabor únicos.
Além de melhorar a qualidade e a produtividade, a pesquisa científica no café de Minas Gerais também tem foco em garantir que os produtores possam lidar melhor com os desafios impostos pelas mudanças climáticas e pela evolução de pragas. Em um estado tão diversificado, as condições climáticas variam bastante, e cada região exige uma abordagem específica para o cultivo do café. Por isso, a Epamig tem trabalhado intensamente para desenvolver cultivares que sejam resilientes às condições locais, como a alta temperatura e a irregularidade das chuvas, que são características típicas de Minas Gerais.
Entre 2016 e 2022, um projeto de avaliação de cultivares realizado pela Epamig no Cerrado Mineiro ajudou a identificar variedades de café com grande potencial para essa região. O projeto, em parceria com a Federação dos Cafeicultores do Cerrado e o Consórcio Pesquisa Café, permitiu o avanço da pesquisa em áreas com características climáticas mais extremas, o que contribuiu para o aprimoramento das cultivares utilizadas na região. O sucesso desse projeto abriu portas para novas pesquisas, que agora buscam levar essas tecnologias e inovações para outras áreas cafeeiras do estado, ampliando ainda mais o alcance da ciência no cultivo do café.
A transferência de tecnologia para os cafeicultores é outro aspecto essencial para garantir o sucesso das pesquisas e das novas cultivares. A Epamig, junto a outras instituições, tem promovido programas de capacitação e assistência técnica para que os produtores possam adotar as melhores práticas e as novas cultivares em suas propriedades. O acesso a tecnologias de ponta e a informações detalhadas sobre o cultivo moderno do café tem permitido que pequenos e médios produtores se beneficiem dos avanços científicos, tornando a cafeicultura mais eficiente e sustentável.
Portanto, o café de Minas Gerais é um exemplo claro de como a ciência e a tecnologia podem transformar uma cadeia produtiva tradicional. Através de pesquisas de ponta e do melhoramento genético, o estado tem conseguido melhorar tanto a produtividade quanto a qualidade do café, garantindo sua competitividade no mercado internacional. À medida que os desafios no campo se tornam mais complexos, a inovação e a ciência seguem sendo a chave para um futuro promissor para os cafeicultores de Minas Gerais, consolidando o estado como líder na produção de café de alta qualidade.
Autor: Galina Sokolova